Muitos que estavam no acampamento fizeram vigilância e protestos contra a prisão e com a soltura comemoraram
Em 02 de julho de 2021
Itaguaí – O líder do Campo de Refugiados 1º de Maio, em Itaguaí, foi libertado na noite desta sexta-feira. Dezenas de pessoas que faziam parte do movimento comemoraram com o líder da ocupação. Eles estavam em vigilância desde cedo em protestos contra a prisão que eles alegam ser arbitrária.
Ele havia sido preso mais cedo por um agente da 50ª DP (Itaguaí). Wellington Moreira da Silva, conhecido como Eric Vermelho, de 53 anos, disse que recebeu voz de prisão no Ciep 496, no bairro Monte Serrat, onde metade das famílias desalojadas passou a noite.
Segundo informações da 50ª DP (Itaguaí), ele havia sido “preso em flagrante sob acusação de esbulho possessório, desobediência, parcelamento indevido de solo urbano e associação criminosa”.
A outra metade das 400 famílias retiradas do terreno da Petrobras em Itaguaí, em uma ação de reintegração de posse, foi acolhida na Escola Municipal Prefeito Wilson Pedro Francisco.
No total, cerca de 1.500 pessoas tiveram de sair da ocupação, que ficava em um dos acessos a Itaguaí. A maioria não tem para onde ir.
No fim da tarde de quinta-feira, praticamente todos os casebres já haviam sido derrubados no Acampamento dos Refugiados Primeiro de Maio.
Tumulto na desocupação
O Batalhão de Choque da PM cercou o terreno da Petrobras enquanto oficiais de justiça tentavam negociar a saída das pessoas. Mas não houve acordo.
“Deram 20 minutos para a gente sair e arrumar o que tinha”, contou Natalia Barbosa dos Santos.
A polícia forçou o portão e entrou. Do lado de dentro, moradores montaram barricadas e atearam fogo para impedir a entrada dos agentes. Alguns lançaram objetos.
Em reação, a polícia atirou bombas de efeito moral e disparou balas de borracha.
O ajudante de pedreiro Ramon Ribeiro da Silva afirmou que foi atingido no nariz. “Os caras já entraram atirando em todo mundo”, narrou.
A PM afirmou que seguiu os protocolos. Segundo o tenente coronel Vinicius Carvalho, comandante do Batalhão de Choque, alguns moradores estavam agachados.
“Umas 50 pessoas usaram palets e se abaixaram atrás. Dentro da doutrina segura de emprego, esse tipo de munição é usado abaixo da linha da cintura. Nós efetuamos os disparos abaixo da linha da cintura. Porém, se uma pessoa estiver deitada no chão ou abaixada, pode pegar no rosto”, explicou.
Dois meses de invasão
O terreno começou a ser ocupado em 1º de maio. Alguns dias depois da entrada dos sem-terra, a Petrobras obteve o direito de reintegração de posse da área. A Defensoria Pública conseguiu suspender a decisão.
A empresa, então, recorreu ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), que acolheu o pedido da estatal.
A Justiça determinou que a Petrobras oferecesse ônibus para transportar as pessoas e caminhão para levar as mudanças.
“Querem levar a gente para abrigo, para a Rodoviária de Campo Grande ou para a Central do Brasil. É justo isso?”, indagou Valéria Fonseca da Silva.
Nem o governo do estado nem a Prefeitura de Itaguaí sabem informar o número exato de ocupantes do terreno.
Segundo a OAB e os movimentos de moradia que acompanhavam a situação da ocupação, havia mais de 3 mil pessoas no local — 993 mães chefes de família, 1.854 crianças e 427 idosos.
O que dizem os envolvidos
A Petrobras informou que o mandado de reintegração foi autorizado pelo STJ e foi cumprido com o apoio da Secretaria de Assistência Social de Itaguaí para garantir a “desocupação segura e pacífica” do terreno.
Em nota, a Prefeitura de Itaguaí disse que tentou cadastrar anteriormente os acampados, mas foi “impedida pelas lideranças do movimento”. “A tentativa da prefeitura consta, inclusive, nos autos da decisão judicial de reintegração de posse seguindo as orientações do estado e do Poder Judiciário.”
A prefeitura também informou que a responsabilidade do município era com as pessoas originárias de Itaguaí. “Cerca de 90% dos ocupantes do terreno são de fora da cidade”, afirmou.
O governo do estado disse que a responsabilidade principal do estado era encaminhar para abrigos as famílias que não eram de Itaguaí.
Com G1