Presidente minimizou os anos de estudo de um enfermeiro, os classificando como médicos “menos preparados”.
O presidente Jair Bolsonaro (PSL) em mais um momento polêmico, relatou em vídeo que médicos que não aprovados em programação de revalidação do “Mais médicos ” deveriam “arranjar outra profissão, ou então ficar como enfermeiros, ganhando menos”.
A declaração do presidente contrariou o Coren do Rio e de São Paulo que em nota repudiaram o que segundo eles demonstra uma visão ultrapassada e deturpada sobre o que faz um médico e um enfermeiro. Veja as notas na íntegra:
Nota Oficial
O Conselho Regional de Enfermagem do Rio de Janeiro, mais do que repudiar, vem esclarecer ao presidente da República sobre as competências imprescindíveis e exclusivas da enfermagem no escopo da saúde no Brasil e no mundo. Presidente, médicos não estudam 5 ou 6 anos para estar na assistência, nos cuidados da enfermagem. A competência de médicos é diferente da nossa. Somos da ENFERMAGEM.
Somos cientistas do CUIDADO. Estudamos muito! Nossas atribuições profissionais estão no topo da pirâmide da saúde,ainda que, infelizmente, por ignorância e alinhado ao senso comum dos não informados, o Sr. classifique aqueles que estão à beira do leito, 24 horas por dia e 365 dias por ano, servindo ao bem-estar, promovendo a cura e a ASSISTÊNCIA necessárias para tanto, como profissionais tão qualificados. DIPLOMADOS E REGULAMENTADOS POR UM CONSELHO,
O Sr., que passou por uma intervenção séria, deveria entender o valor da enfermagem, pois teve a oportunidade de receber o cuidado e a assistência destes profissionais especializados e capacitados, os quais não mediram esforços, junto com às equipes que lhe prestaram atendimento, a lutar pelo seu restabelecimento.
Não nos diminua nos desqualificando como mão de obra barata.
Esta é uma boa oportunidade de entender o valor imenso da enfermagem e seu importante papel na sociedade. Observe, analise e defenda esta categoria do qual, com tanto esmero, vocação e diletância, prestou assistência em seus momentos mais difíceis durante, 24 horas ininterruptas à beira do leito.
O Sr. que é um ser humano, ainda que chefe de uma nação, sempre precisará de quem depreciou nesta fala equivocada. Ainda está em tempo, Mude isso! Veja o quanto a categoria de enfermagem luta pela bandeira das 30h em jornada semanal, pelo justo piso nacional digno, e pelo humano local de descanso durante o seu serviço.
É com reconhecimento e resolutividade que aguardamos as suas desculpas. Com certeza, contamos com o seu tão importante apoio. Somos uma NAÇÃO, presidente! A maior massa de trabalhadores da saúde. Somos milhões.
Não se faz saúde nem políticas públicas diminuindo esta classe, que tanto se dedica a cuidar e prestar assistência de qualidade a toda sociedade
Não nos deprecie. Está nas sua mãos nos fazer justiça,
Contamos já com o Sr e com sua lucidez.
Plenário do Coren-RJ
NOTA DE ESCLARECIMENTOS AO PRESIDENTE DA REPÚBLICA, JAIR BOLSONARO
O Coren-SP vem a público expor ao Presidente da República, Jair Bolsonaro, o verdadeiro valor e as competências da atuação profissional da enfermagem. Em vídeo no qual aborda o programa Mais Médicos, o presidente afirma que os médicos não aprovados em programação de revalidação deveriam “arranjar outra profissão, ou então ficar como enfermeiros, ganhando menos”.
A fala demonstra uma visão ultrapassada e deturpada da atuação da enfermagem. Mais de dois milhões de profissionais brasileiros sofrem com a falta de valorização e de reconhecimento, tendo bandeiras como piso salarial, jornada de 30 horas semanais e local adequado para descanso ignoradas há anos pelos poderes legislativo e executivo. Além disso, visões preconceituosas e desprovidas de qualquer conhecimento sobre a prática ainda têm a enfermagem como auxiliar dos médicos.
Os primórdios da enfermagem remontam ao século XIX, com as atuações históricas da inglesa Florence Nightingale e da jamaicana Mary Seacole na Guerra da Crimeia e da brasileira Anna Neri na Guerra do Paraguai. A profissão foi regulamentada no Brasil pela Lei 7.498/1986 e pelo decreto 94.406/1987, que estabelece tacitamente em seu Art. 1º: “O exercício da atividade de enfermagem, observadas as disposições da Lei nº 7.498, de 25 de junho de 1986, e respeitados os graus de habilitação, é privativo de Enfermeiro, Técnico de Enfermagem, Auxiliar de Enfermagem e Parteiro e só será permitido ao profissional inscrito no Conselho Regional de Enfermagem da respectiva Região”.
O Coren-SP rechaça a fala do presidente, que inferioriza a enfermagem perante a medicina, lembrando que os profissionais de enfermagem representam a maior força de trabalho da saúde do Brasil, estando presentes em todas as fases da vida dos indivíduos, desde atuação em pré-natal até os cuidados paliativos.
A enfermagem é democrática, ampla e diversa, formada por profissionais com os mais diversos níveis de formação, desde o ensino fundamental até protagonizando pesquisas e estudos que favorecem a produção acadêmica brasileira. É também a enfermagem que possibilita, desde a atenção básica, a porta de entrada do acesso da população ao Sistema Único de Saúde (SUS), referência mundial de saúde pública, e que vem sofrendo dia a dia, com subfinanciamento e degradação, graves ameaças à sua existência.
A profissão sofre também com estereótipos retrógrados e machistas que sexualizam a figura feminina ou que atacam diretamente a identidade de gênero dos profissionais, além de um senso comum generalista e restritivo sobre todas as categorias que formam a profissão (enfermeiros, obstetrizes, técnicos e auxiliares de enfermagem). Ao se deparar com uma fala tão grosseira e desrespeitosa do mais alto representante do poder executivo do Brasil, mais de meio milhão de profissionais de enfermagem brasileiros são mais uma vez agredidos e menosprezados em suas características, autonomia e atuação.
Também causa profunda indignação, junto à inferiorização da categoria, o presidente da República tratar a desvalorização como algo natural, ao citar os baixos salários da categoria, quando na verdade deveria combatê-la, na busca por mais justiça social. O Coren-SP acredita que essa seja a expectativa não apenas da enfermagem, mas de todo povo brasileiro.
O Coren-SP, representando um quarto da força da enfermagem brasileira, clama por mais respeito e consideração às históricas lutas da enfermagem, como salários justos e uma jornada de trabalho de 30 horas semanais, seguindo recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS). O conselho se põe à disposição da Presidência da República para dialogar sobre toda contribuição da enfermagem à saúde dos brasileiros e sobre a importância da valorização e reconhecimento da profissão.