O sargento da PM reformado Ronnie Lessa é apontado como o responsável por efetuar os disparos, enquanto o ex-PM Elcio Vieira de Queiroz dirigia o carro usado na execução. Mas mandante ainda não foi revelado
Um PM e um ex-PM foram presos no início da manhã desta terça-feira acusados de participação nos assassinatos da vereadora Marielle Franco e de seu motorista, Anderson Gomes. O sargento da PM reformado Ronnie Lessa é apontado como o responsável por efetuar os disparos que mataram a parlamentar e seu motorista, enquanto o militar da corporação expulso dirigia o Cobalt usado na perseguição e ataque à parlamentar. Segundo as investigações, ele era o motorista do Cobalt utilizado para a execução. Elcio foi policial militar,mas acabou expulso da corporação. As prisões ocorrem dois dias antes dos crimes completarem um ano.
Ronnie foi preso em casa, em um condomínio na Barra da Tijuca, onde o presidente Jair Bolsonaro morava antes de se tornar presidente e mudar para Brasília. O ex-PM Elcio Vieira de Queiroz é outro preso na operação desta terça, também em sua residência, no Engenho de Dentro, na Zona Norte. Nas redes sociais, uma foto mostra Queiroz ao lado do presidente. Bolsonaro ainda não se pronunciou sobre o caso.
A operação desta terça é realizada pelo Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ), por meio do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco/MPRJ), e pela Polícia Civil. Para os promotores do Gaeco, a empreitada criminosa foi meticulosamente planejada durante os três meses que antecederam o atentado. Além das prisões, a operação executa 34 mandados de busca e apreensão nos endereços dos denunciados e outros locais para apreender documentos, telefones celulares, notebooks, computadores, armas, acessórios, munições e outros objetos.
Na casa de Ronnie foram feitas diversas apreensões, entre elas um carro de luxo, FX35 da Infinnity, modelo de 2011, que o valor pode chegar a R$ 200 mil. Os agentes que participam das buscas na casa do sargento reformado da PM fazem uma busca meticulosa na residência, vasculhando telhados caixa d’água e, inclusive, vão escavar o terreno em busca de provas.

Políciais cumpriram mandado de busca e apreensão na casa do Sargento reformado Ronnie Lessa. Num condomínio de luxo
Após as prisões, o PM e o ex-PM foram levados para Divisão de Homicídios, na Barra da Tijuca. Élcio entrou pela porta lateral para evitar os jornalistas e um advogado que representa um dos presos também está na na especializada, mas não quis falar com a imprensa.

Carro da vereadora com marcas de tiro e vidros estilhaçados foi levado para a DH, após perícia inicial Maíra Coelho / Agência O Dia
Junto com os pedidos de prisão e de busca e apreensão, o Ministério Público pediu a suspensão da remuneração e do porte de arma de fogo de Lessa. Também foi requerida a indenização por danos morais aos familiares das vítimas e a fixação de pensão em favor do filho menor de Anderson até completar 24 anos de idade.

Marielle foi assassinada no dia 14 de março
A Operação Lume foi batizada em referência a uma praça no Centro do Rio, conhecida como Buraco do Lume, onde Marielle desenvolvia um projeto chamado Lume Feminista. No local, ela também costumava se reunir com outros defensores dos Direitos Humanos e integrantes do Psol. Além de significar qualquer tipo de luz ou claridade, a palavra lume compõe a expressão ‘trazer a lume’, que significa trazer ao conhecimento público, vir à luz.
“É inconteste que Marielle Francisco da Silva foi sumariamente executada em razão da atuação política na defesa das causas que defendia”, diz a denúncia acrescentando que a barbárie praticada na noite de 14 de março de 2018 foi um golpe ao Estado Democrático de Direito.
PM reformado perdeu perna em atentado a bomba.
Em outubro de 2009, Ronnie Lessa perdeu uma das pernas após uma granada explodir dentro de seu carro, em Bento Ribeiro, na Zona Norte. Ele era lotado no 9º BPM, em Rocha Miranda, e o ataque aconteceu a poucos metros do batalhão. Ele também já atuou na Delegacia Antissequestro (DAS), cedido pela PM.
O atentado contra Lessa estaria associada a uma disputa interna pela segurança do contraventor Rogério de Andrade, que também sofreu um ataque a bomba seis meses antes. Diego de Andrade, filho de Rogério, morreu no atentado contra o pai, ocorrido na Barra da Tijuca.
O autor de ambos os ataques seria o ex-sargento do Exército Volber Roberto da Silva Filho. Ele acabou morto numa ação da Polícia Civil, no ano passado, durante uma troca de tiros num motel em Jacarepaguá.
O tiroteio, segundo o relato dos informantes, teria sido forjado para encobrir o assassinato de Volber.
Em abril do ano passado, ele também foi alvo de uma tentativa de assalto, conforme divulgado na época. Ronnie estava acompanhado de um militar do Corpo de Bombeiros e reagiu a uma abordagem na Praia do Pepê, na Barra. O PM reformado acabou atingido de raspão no pescoço e o bombeiro no braço.
Sargento reformado processou sites, mas Justiça arquivou processo por não achar autor
Em 2012, Ronnie entrou na Justiça contra portais de notícias por “uso indevido de imagem e danos morais”. Na época, informações sobre sua ligação com o contraventor Rogério de Andrade vieram a tona e ganharam repercussão na mídia.
A ação cita cinco veículos de informação, entre sites e programas de TV. Entretanto, a ação judicial acabou arquivada porque o sargento reformado, maior interessado no processo, não era encontrado.
“O feito encontrava-se paralisado há dois anos. Intimado para promover andamento ao feito em 48 horas, o mesmo não foi possível, pois não consta o endereço do autor nos autos. A parte autora deveria fornecer o seu endereço, assim como mantê-lo atualizado. Assim, tornou-se inviável a intimação do autor”, diz a ação.
Assessora sobrevivente de ataque fala pela primeira vez e diz que Marielle ‘incomodava’
No último domingo, a poucos dias das execuções de Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes completarem um ano, a assessora da vereadora deu uma entrevista relembrando os assassinatos. Fernanda Chaves estava no carro que foi alvejado com mais de 10 tiros no Estácio, a região central do Rio.
“Lembro que fui depor na delegacia, imediatamente após o crime, abraçada… pedi pro meu advogado sentar atrás do meu carro e fui abraçada e praticamente abaixada. Tinha a sensação de que a qualquer momento ia vir uma rajada de metralhadora pela janela. Dentro da minha casa eu não passava pela janela”, a jornalista relembrou, em entrevista concedida ao Fantástico.
Fonte O Dia
Pressão internacional e homenagens durante o Carnaval deram novamente destaque ao crime bárbaro. Fora do País, toda a imprensa achava um absurdo em quase um ano, responsáveis não estavam presos. Contudo, quem mandou matar? Gente grande e poderosa pode estar por trás do assassinato.